Monday, October 02, 2006

A casa

É uma casa simples. Dois quartos, sala, cozinha, banheiro. O chão é de piso vermelho, que precisa ser encerado e o banheiro só tem azulejo até a metade das paredes. O quintal é bem comprido, tem um canteirinho com umas plantinhas, dois inhames e uma pintagueira, que costumava dar muitos frutos na primavera. Ela parou de produzir depois que a dona da casa - minha avó - morreu.
A casa, sete anos após a morte da minha vó, foi vendida para um casal de velhinhos e, infelizmente, já não é mais a mesma. Eles a pintaram de amarelo, e no lugar do portãozinho baixo de madeira, há um moderno portão de alumínio. As janelas estão com grades e nem parece mais a casa onde eu vivi a minha infância.
Eu me lembro que era uma casa sempre cheia de gente, com minhas tias transitando para lá e para cá. A cozinha tinha um cheirinho permamente de café e um gato preto - o Miii - andava silenciosamente enquanto eu tentava puxar seu rabo. Foi lá que ouvi meus primeiros Lp's da Xuxa e foi lá que eu comi minha primeira barra de Crunch. Foi lá que brinquei na piscina de 3 mil litros com os meus primos e era lá que tomava na xuquinha suco de laranja com acerola.
Hoje, toda vez que passo na frente da casa, eu suspiro e digo "Nem parece mais a casa da vó". Não se parece e nem é, mas é inevitável a avalanche de lembranças que ela me desperta. O triste é saber que da minha vó e todos as coisas boas que eu vivi ali, só sobrou uma pitangueira, raquítica e solitária que não dá mais frutos...

"Não importa que a tenham demolido:
a gente continua morando na velha casa em que nasceu."
(Mário Quintana - Preparativos de viagem)

1 comment:

she said...

Nossa, que lindo isso que vc escreveu...mas a vida é assim né? Não pára pra gente nunca, e temos que nos acostumar às mudanças...